Por Cleide Cavalcante

Construir uma cultura organizacional forte vai muito além de slogans e valores escritos na parede. No episódio 112 do Progicast, Cleide Cavalcante mostra os pilares invisíveis que realmente sustentam empresas de alto desempenho.

Em um cenário corporativo onde a autenticidade e o impacto social são cada vez mais valorizados, a construção de marcas que ressoam verdadeiramente com o público transcende a publicidade e o design. O episódio 112 do Progicast explorou as fundações muitas vezes invisíveis, mas fundamentais, dessas marcas: a felicidade genuína e o senso de propósito que emanam de dentro da organização. Com as perspectivas de Patrícia Santos, especialista em Ciência da Felicidade e Gerenciamento da Raiva, e Domitila Carbonari, Gerente de Comunicação Corporativa do Grupo EcoRodovias, a conversa lançou luz sobre como o bem-estar e o alinhamento interno são vetores poderosos para a construção de reputação e lealdade.

O Grupo EcoRodovias ilustra bem essa jornada. Seu recente processo de rebranding foi muito além da identidade visual, focando na essência e no futuro da companhia. “A EcoRodovias é um grupo de 25 anos que já tem uma história contada; quando a gente foi olhar um pouco para o futuro da companhia, a gente não quis abandonar aquela história que já existia“, ponderou Domitila Carbonari. A empresa buscou incorporar sua evolução – maior complexidade, crescimento, governança robusta e um forte foco em sustentabilidade – a essa herança.

Fundamental nesse processo foi a definição de um novo propósito, “Viabilizar caminhos nunca antes imaginados”, nascido de uma escuta profunda. “A gente ouviu os nossos colaboradores, ouvimos liderança, ouvimos o mercado”, detalhou Domitila. Esse propósito, ancorado nos diferenciais percebidos de excelência técnica, impacto social positivo e sustentabilidade, tornou-se um catalisador. “A gente percebe que ter um propósito forte como esse ajuda as pessoas a darem sentido para aquele trabalho que elas desenvolvem (…) A gente viu a motivação das pessoas ali quando a gente trouxe isso a público”, relatou. Essa conexão emocional, segundo ela, é resultado de autenticidade: “É um propósito muito genuíno, eu acho que é por isso que ele fez sentido para as pessoas”. Estudos globais, como o “Global Marketing Trends” da Deloitte, corroboram essa visão, mostrando que empresas orientadas por propósito frequentemente superam seus pares em métricas de crescimento e engajamento.

Os Pilares Invisíveis (e essenciais) de Culturas Corporativas Fortes

Decifrando a felicidade: lições da Finlândia e da ciência

Patrícia Santos, trazendo insights frescos de uma imersão na Finlândia – país que lidera o World Happiness Report há oito anos consecutivos – e sua expertise em ciência da felicidade (formada com Tal Ben-Shahar, de Harvard) e gerenciamento da raiva, conectou a experiência da EcoRodovias a princípios universais. O simples ato de ouvir os colaboradores, destacou, combate um dos medos humanos primários: o de ser ignorado. “A partir do momento em que eles tiveram voz ativa, que foram escutados, eles já se sentiram pertencentes“, afirmou Patrícia. Ela relembrou o clássico estudo de Elton Mayo na fábrica Hawthorne, onde a produtividade aumentou não pela luz, mas pela percepção dos trabalhadores de que estavam sendo observados e cuidados.

A experiência finlandesa, segundo Patrícia, oferece um framework prático, os “5 Fs”:

1 – Fearless (Sem Medo): segurança psicológica para inovar e errar. A segurança, física e psicológica, é primordial – “A primeira coisa que [os finlandeses] falavam era a questão de segurança”, observou Patrícia, traçando um paralelo com o primeiro pilar de atendimento da Disney.

2 – Freedom (Liberdade): “A liberdade de você ser quem você é e de você se tornar quem você quer se tornar”, permitindo autenticidade e desenvolvimento pessoal. Isso se conecta à ideia de Nietzsche citada por Patrícia: “Quem tem um porquê na vida, supera quase qualquer como”.

3 – Functionality (Funcionalidade) & Sisu: processos que funcionam e a resiliência intrínseca finlandesa, o Sisu. “[Sisu] quer dizer entranhas, intestino (…) uma força interior, determinação resiliente e coragem diante do impossível”, explicou Santos.

4 – Future Direction (Direção Futura): clareza sobre a visão e os objetivos da empresa, essencial para o alinhamento e a motivação.

5 – Fun (Diversão): integrar leveza, celebração e conexão, criando ambientes agradáveis e promovendo eventos que unem as pessoas. “Quando a gente organiza uma festa junto, a gente se torna muito mais feliz e muito mais unido”, ressaltou.

Esses pilares se alinham ao modelo SPIRE de Tal Ben-Shahar, detalhado por Patrícia: Spiritual (propósito, mindfulness – “Se você não tem tempo pra meditar 20 minutos por dia, é que você tá precisando meditar uma hora“), Physical (saúde, sono, exercício – “O sedentarismo é o novo tabagismo“), Intellectual (aprendizado contínuo – “Pessoa que para de estudar, emburrece e fica chata”), Relacional (qualidade dos relacionamentos – a base da felicidade) e Emocional (cultivar emoções positivas, sem negar a realidade).

Da ciência à Cultura Organizacional: ações e mensuração

Traduzir esses conceitos em práticas tangíveis é o desafio. Domitila Carbonari mencionou a cultura de colaboração da EcoRodovias, os canais de comunicação abertos com a liderança (“escutas intencionais de fato”) e a mudança de perspectiva:

“A gente fala muito sobre olhar para a experiência do colaborador. Mas eu acho que a gente deveria pensar um pouco em dar um olhar para a vida do colaborador“, refletiu.

Patrícia Santos adicionou a importância de respeitar o tempo de descanso, evitando comunicações fora do expediente que geram ansiedade. “O problema não é a quantidade de estresse (…) O problema é o que é que você faz para se desestressar“, disse, defendendo as “ilhas de sanidade” individuais.

Mensurar o impacto é vital. “A gente tem pesquisas de engajamento que nos trazem insights muito relevantes para a gente poder usar de forma estratégica“, explicou Domitila. Patrícia complementou que o feedback externo, vindo de clientes e fornecedores, também serve como um espelho da cultura interna.

Um alerta importante foi dado sobre o risco do “positivismo tóxico”. Um antídoto? Transparência e autenticidade. “A comunicação precisa ser transparente, transparente até em momentos difíceis“, defendeu Domitila, rejeitando a “comunicação oba-oba”. Patrícia foi enfática: “[Evita-se o positivismo tóxico] sendo verdadeiro (…) Sempre que existir a rádio corredor, a rádio peão, é porque a comunicação formal não está sendo feita”.

A conversa também abordou a ansiedade crescente e a cultura da comparação. Patrícia Santos observou a busca incessante por “algo mais”, muitas vezes alimentada pelas redes sociais. “Qual é a régua que você está usando para medir a sua felicidade?“, questionou. A solução, segundo ela, passa pela gratidão.

A ciência mostra que quando a gente é grato (…) você produz dopamina no teu cérebro (…) e a serotonina (…) te dá o bom humor“.

Ela advertiu contra a comparação com os outros (“Ninguém tira um prato do micro-ondas dentro de um tupperware e posta“) e incentivou a comparação consigo mesmo: “Quem você era ontem com quem você é hoje e quem você quer ser amanhã“. A generosidade, destacada no World Happiness Report, também foi apontada como fonte de felicidade mútua, ecoando a Madre Teresa: “Sempre quem oferece flores fica com o perfume nas suas mãos“, citou Patrícia.

O fator humano: vulnerabilidade e escolhas pessoais

As próprias convidadas compartilharam suas “ilhas de sanidade”: Domitila encontra sua meditação na leitura e no bordado; Patrícia cultiva o bom humor matinal, a aceitação das reviravoltas da vida (“aprendi a me apaixonar por mim“) e a permissão para sentir todas as emoções, inclusive a raiva (tema de seu livro “Raiva, quem não tem?”). A mensagem implícita é poderosa: “Dê a você a permissão de ser humano“, como disse Tal Ben-Shahar, citado por Patrícia.

O Progicast 112 reforçou uma verdade fundamental: marcas fortes, empáticas e verdadeiramente estimadas são um reflexo direto da saúde de sua cultura interna. Investir na felicidade, no propósito, na segurança psicológica e no bem-estar dos colaboradores não é apenas “o certo a fazer”, é uma estratégia de negócios inteligente e sustentável.

“Precisa ter coerência entre discurso e prática. Não basta só as empresas se comunicarem, parecerem ser, elas têm que ser de fato”, concluiu Domitila Carbonari.

E nesse “ser de fato”, cultivado através da escuta, da transparência, do propósito compartilhado e do cuidado genuíno, reside o poder duradouro das marcas que realmente importam.

SOBRE AS ENTREVISTADAS:

Domitila Carbonari:

Profissional de comunicação corporativa com 20 anos de experiência, tendo atuado em diversas disciplinas da área, como comunicação interna, imprensa, gerenciamento de risco e crise, eventos e publicidade. Atualmente, ocupa há dois anos a posição de Gerente de Comunicação Corporativa no Grupo EcoRodovias, o maior operador de rodovias do Brasil, onde liderou desafios recentes de rebranding, reposicionamento de marca e o lançamento de um novo propósito organizacional.

Patrícia Santos:

Consultora, palestrante e escritora, especialista em Gerenciamento da Raiva, pela National Anger Management Association – NAMA de Nova Iorque, EUA, onde também é fellow. Coautora do livro “Raiva, quem não tem?”, aprofundou seus estudos na Ciência da Felicidade com o professor Tal Ben-Shahar (Harvard). Com uma paixão declarada pela Disney (“Disney lover”), ela integra esses conhecimentos, trazendo dados recentes – como os de sua recente viagem à Finlândia – para aplicar os princípios da felicidade na gestão empresarial, tendo sido palestrante no PeopleTech Summit. É sócia da Conexão Desenvolvimento Organizacional, empresa que presta serviços na área de Recursos Humanos e consultoria especializada.

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Escrito por Cleide Cavalcante

Gerente de Comunicação e TV Corporativa, há 16 anos mudou o rumo da carreira para trabalhar com o que mais gosta: tecnologia, inovação e comunicação interna. Ao longo deste tempo, foram mais de 350 canais digitais implantados - TV Corporativa e apps - com sucesso. E, entre um job e outro, a vida flui intensamente em meio a livros, à natureza e aos pets de estimação.
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