Por Cleide Cavalcante

Esta semana, durante um treinamento de liderança, ouvi sobre o nervo polivagal e as amígdalas cerebrais. Foi algo inédito e surpreendente para mim. Fui pesquisar e estudar um pouco mais sobre isso, pois entendi que faz todo o sentido quando aplicamos isso no dia a dia, na gestão de pessoas.

Saber como estes componentes do sistema nervoso influenciam a recepção de feedbacks e correções de postura e conduta no ambiente corporativo, destacando a importância de um ambiente de trabalho seguro e acolhedor para promover a comunicação eficaz e o desenvolvimento profissional.

Segundo especialistas, o nervo polivagal e as amígdalas cerebrais desempenham papéis cruciais na regulação das respostas emocionais e fisiológicas do corpo.

O nervo polivagal, conforme explicado por Stephen Porges, em seu artigo “A Teoria Polivagal: Novos Insights sobre Reações Adaptativas do Sistema Nervoso Autônomo” (2009), desempenha um papel crucial na regulação das nossas respostas emocionais e sociais.

Ele é responsável por mediar nossas reações de luta, fuga ou congelamento, que são respostas automáticas a situações percebidas como ameaçadoras. No contexto corporativo, isso significa que a forma como recebemos feedback pode ser profundamente influenciada pelo estado do nosso sistema nervoso autônomo.

Já as amígdalas cerebrais, que estruturas do cérebro centrais no processamento de emoções, agem especialmente na questão do medo e da ansiedade. Joseph LeDoux, em seu livro “O Cérebro Emocional: Os Mistérios das Bases das Emoções” (1996), descreve como as amígdalas são ativadas em situações de estresse e como isso pode afetar nossa capacidade de processar informações de maneira racional.

Quando recebemos feedback negativo ou correções de conduta, nossas amígdalas podem desencadear uma resposta emocional intensa, dificultando a assimilação construtiva dessas informações.

Compreender estes mecanismos é essencial para líderes que desejam fornecer feedback de maneira eficaz. Ao reconhecer que as reações dos colaboradores podem ser influenciadas por esses processos neurológicos, podemos adotar abordagens mais empáticas e estratégicas. Por exemplo, criar um ambiente seguro e de apoio pode ajudar a minimizar a ativação das amígdalas e promover uma recepção mais positiva e produtiva do feedback.

Esta nova perspectiva sobre o nervo polivagal e as amígdalas cerebrais, baseada nas pesquisas de Porges e LeDoux, me proporcionou insights valiosos sobre como melhorar a comunicação e a liderança dentro da minha equipe na Progic. Ao aplicar esses conhecimentos, espero conseguir fomentar um ambiente de trabalho mais harmonioso e eficiente, onde o feedback seja sempre visto como uma oportunidade de crescimento e não como uma ameaça. O que é terrível.

PARA SABER MAIS:

O nervo polivagal é uma componente do sistema nervoso autônomo, que controla funções involuntárias do corpo, como a frequência cardíaca, a digestão e a respiração. Ele é dividido em três partes principais:

1. Ramo dorsal vagal: associado a respostas de congelamento e imobilidade.

2. Ramo ventral vagal: relacionado à socialização, conexão e segurança.

3. Sistema simpático: envolvido em respostas de luta ou fuga.

A teoria polivagal, desenvolvida pelo Dr. Stephen Porges, sugere que o nervo polivagal desempenha um papel fundamental na forma como os seres humanos respondem ao estresse e às interações sociais.

As amígdalas cerebrais: processamento de Memórias e Emoções

As amígdalas cerebrais são duas estruturas em forma de amêndoa localizadas no sistema límbico do cérebro. Elas são essenciais para o processamento de memórias emocionais e a regulação das respostas emocionais. As amígdalas desempenham um papel crucial em:

1. Processamento de Emoções:

– Identificação e resposta a estímulos emocionais.

– Regulação de emoções como medo e raiva.

2. Memória Emocional:

– Codificação e armazenamento de memórias associadas a emoções.

– Influência na recuperação de memórias emocionais.

A Influência do Nervo Polivagal e das Amígdalas na Recepção de Feedbacks

** Respostas de Segurança e Ameaça

Quando um indivíduo recebe feedback ou correções de postura e conduta, tanto o nervo polivagal quanto as amígdalas cerebrais influenciam a forma como essa informação é processada. Se o ambiente é percebido como seguro, o ramo ventral vagal é ativado, promovendo uma resposta de calma e abertura, enquanto as amígdalas permanecem menos reativas. No entanto, se o ambiente é percebido como ameaçador, o sistema simpático ou o ramo dorsal vagal pode ser ativado, resultando em respostas de luta, fuga ou congelamento, com as amígdalas desencadeando respostas emocionais intensas.

** Impacto no Ambiente Corporativo

No ambiente corporativo, a forma como o feedback é entregue pode ativar diferentes respostas polivagais e amigdalianas nos colaboradores:

1. Ambiente Seguro e Acolhedor:

Ativação do ramo ventral vagal: promove a receptividade, a colaboração e a abertura para mudanças.

Redução da atividade das amígdalas: minimiza respostas emocionais intensas.

Efeitos positivos: melhora a comunicação, aumenta a confiança e facilita o desenvolvimento profissional.

2. Ambiente ameaçador ou hostil:

Ativação do sistema simpático ou ramo dorsal vagal: pode resultar em respostas de defesa, resistência ou desengajamento.

Aumento da atividade das amígdalas: intensifica respostas emocionais negativas.

Efeitos negativos: dificulta a aceitação de feedback, aumenta o estresse e pode levar a conflitos.

** Estratégias para melhorar a recepção de feedbacks

Criação de um Ambiente Seguro

Para promover a ativação do ramo ventral vagal e reduzir a reatividade das amígdalas, é essencial criar um ambiente de trabalho seguro e acolhedor. Algumas estratégias incluem:

1. Comunicação Clara e Empática:

Use uma linguagem positiva e construtiva.

– Demonstre empatia e compreensão.

2. Estabelecimento de Relações de Confiança:

Construa relações baseadas na confiança e no respeito mútuo.

– Incentive a transparência e a honestidade.

3. Feedback Contínuo e Equilibrado:

Ofereça feedback regularmente, não apenas em momentos de crise.

– Equilibre feedbacks positivos e negativos.

** Técnicas de regulação emocional

Além de criar um ambiente seguro, é importante ensinar técnicas de regulação emocional que ajudem os colaboradores a gerenciar suas respostas polivagais e amigdalianas:

1. Mindfulness e Meditação:

– Práticas de mindfulness podem ajudar a acalmar o sistema nervoso e promover a ativação do ramo ventral vagal.

– Reduzem a reatividade das amígdalas.

2. Exercícios de Respiração:

– Técnicas de respiração profunda podem reduzir a ativação do sistema simpático e promover a calma.

– Ajudam a regular as respostas emocionais das amígdalas.

3. Treinamento de habilidades sociais:

– Desenvolver habilidades de comunicação e resolução de conflitos pode melhorar a receptividade ao feedback.

– Reduzem a probabilidade de respostas emocionais intensas.

Em resumo, o nervo polivagal e as amígdalas cerebrais desempenham papéis cruciais na forma como os indivíduos respondem ao feedback e às correções de postura e conduta no ambiente corporativo. Compreender estas influências pode ajudar líderes e gestores a criar um ambiente de trabalho mais seguro e acolhedor, promovendo a comunicação eficaz e o desenvolvimento profissional. Ao implementar estratégias que ativem o ramo ventral vagal, que reduzem a reatividade das amígdalas e ensinam técnicas de regulação emocional, as organizações podem melhorar significativamente a receptividade ao feedback e o bem-estar geral dos colaboradores.

Agradecimentos à Daniane Bergamini que me “apresentou” a teoria do nervo polivagal, e à Juliana Feitosa, que nos trouxe o conceito das amígdalas cerebrais; ambas me estimularam a fazer um link entre eles e o dia a dia, no mundo corporativo, a partir destes estudos.

Referências que podem contribuir para o seu estudo no tema:

1. Porges, S. W. (2011). The Polyvagal Theory: Neurophysiological Foundations of Emotions, Attachment, Communication, and Self-Regulation. W.W. Norton & Company.

2. LeDoux, J. (1996). The Emotional Brain: The Mysterious Underpinnings of Emotional Life. Simon & Schuster.

3. Cozolino, L. (2014). The Neuroscience of Human Relationships: Attachment and the Developing Social Brain. W.W. Norton & Company.

4. Siegel, D. J. (2012). The Developing Mind: How Relationships and the Brain Interact to Shape Who We Are. Guilford Press.

5. Critchley, H. D., & Harrison, N. A. (2013). Visceral Influences on Brain and Behavior. Neuron, 77(4), 624-638.

6. McEwen, B. S. (2007). Physiology and Neurobiology of Stress and Adaptation: Central Role of the Brain. Physiological Reviews, 87(3), 873-904.

7. Davidson, R. J., & Begley, S. (2012). The Emotional Life of Your Brain: How Its Unique Patterns Affect the Way You Think, Feel, and Live–and How You Can Change Them. Penguin Books.

Espero que tenham gostado!

Um abraço e até a próxima 🙂

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Escrito por Cleide Cavalcante

Gerente de Comunicação e TV Corporativa, há 16 anos mudou o rumo da carreira para trabalhar com o que mais gosta: tecnologia, inovação e comunicação interna. Ao longo deste tempo, foram mais de 350 canais digitais implantados - TV Corporativa e apps - com sucesso. E, entre um job e outro, a vida flui intensamente em meio a livros, à natureza e aos pets de estimação.
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