Por Danieli Closs
Equidade racial nas empresas é um tema cada vez mais relevante dentro das organizações que perceberam a urgência de realizar ações para contribuir com a causa e melhorar como um todo a sociedade em que vivemos.
Apesar de favorecer, inclusive financeiramente, as empresas que genuinamente apoiam a equidade racial, os motivos que nos levam a investir em estratégias são ainda mais relevantes e impactam positivamente diversos outros aspectos sociais.
Neste artigo, você poderá compreender a importância da causa e refletir sobre como a sua empresa pode contribuir com a equidade racial através de estratégias que promovam a reflexão sobre o tema e mudanças efetivas no dia a dia. Além disso, disponibilizamos um Kit de Materiais para contribuir com suas ações.
Boa leitura!
“Quando você liga uma emissora de televisão importante, ou abre um jornal importante, encontra pessoas que são, em sua maioria, de outra raça? Se você é mal atendido numa loja cara e pede para ver um gerente, espera que essa pessoa seja de outra raça que não a sua? Se você aceitar um emprego numa empresa que tenha uma cota de vagas para pessoas de cor, teme que seus colegas pensem que não é qualificado e que foi contratado apenas por causa de sua raça? Quando vê roupa de baixo ou curativos “cor da pele”, já sabe que eles não vão ser da cor da sua pele?” – Fragmento do livro Americanah de Chimamanda Ngozi Adichie.
Apesar de nossa Constituição dizer que: “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”, não é bem isso que vemos acontecer.
A carga histórica que carregamos e o racismo que permanece inserido em nossa sociedade, impacta em todos os âmbitos sociais ainda hoje. E isso acontece porque nosso país foi colonizado por europeus que escravizaram pessoas negras.
“O que não me contaram é que o Quilombo dos Palmares, na serra da Barriga, em Alagoas, perdurou por mais de um século, e que se organizaram vários levantes como forma de resistência à escravidão, como a Revolta dos Malês e a Revolta da Chibata. Com o tempo, compreendi que a população negra havia sido escravizada, e não era escrava – palavra que denota que essa seria uma condição natural, ocultando que esse grupo foi colocado ali pela ação de outrem.” – Fragmento do livro Pequeno Manual Antirracista de Djamila Ribeiro
Situações acontecem de formas diferentes para muitas pessoas, dependendo principalmente da sua classe social, cor da pele e gênero. Pessoas que não se enquadram no padrão branco heteronormativo, infelizmente, não têm acesso às mesmas oportunidades e privilégios.
Privilégio é, segundo o dicionário, a “vantagem atribuída a uma pessoa e/ou grupo de pessoas em detrimento dos demais”. Cabe a cada um compreender quais são os privilégios que possui para poder perceber as mudanças que precisam ser realizadas em nossa sociedade para conquistar a equidade.
Entenda mais sobre privilégio branco aqui: 6 Exemplos de privilégio branco por Levi Kaíque Ferreira.
Equidade racial nas empresas – impactos da história no mercado de trabalho
Apesar das mudanças ao longo do tempo, leis e políticas que passaram a determinar direitos a todos os cidadãos, muitos deles, como, educação, terras e distribuição de riquezas, continuaram sendo negados às pessoas negras escravizadas, estas que continuaram à mercê dos senhores, o que contribuiu para a mentalidade “casa-grande-senzala”, infelizmente presente ainda hoje. (Djamila Ribeiro, 2019)
Reflexo dessa mentalidade é o que vemos hoje, quando a maioria das empregadas domésticas, faxineiras, inclusive nas empresas, são mulheres negras. Além disso, casos de pessoas submetidas a condições de trabalho análogos à escravidão ainda são comuns e segundo o Ministério Público do Trabalho, nos últimos 27 anos, 58.166 pessoas foram resgatadas.
Além disso, pessoas negras tem mais barreiras para conseguir um emprego devido a toda carga histórica que impacta no que a pessoa tem acesso durante a vida, tendo que, por exemplo, trabalhar desde cedo para sobreviver, dificultando a possibilidade de estudar.
Dados que constam na tese de Maria Aparecida Slva Bento (2002), mostram que as pessoas pretas têm jornadas mais longas em todas as capitais e duas vezes menos acesso às funções de planejamento, ocupando em maior número funções de execução e serviços gerais.
Já segundo dados de uma pesquisa do Instituto Ethos, realizada em 2010, pessoas negras ocupam apenas 6,3% de cargos na gerência e 4,7% no quadro executivo, embora representem mais da metade da população brasileira.
Já sobre as taxas de desemprego, de acordo com o IBGE, no primeiro trimestre de 2022, a taxa de desemprego entre os pretos ficou em 13,3% enquanto de brancos foi de 8,9%.
“Nenhuma empresa brasileira declara por escrito: ‘não aceitamos negros para o cargo de chefia’. No entanto, gerentes, chefes encarregados, selecionadores de pessoal, utilizam, no dia a dia, essas regras informais, muitas vezes sem refletir e nem sempre com a intenção de discriminar, mas que acabam por reforçar a situação de desigualdade no Brasil.” – Maria Aparecida Silva Bento
Em diversas ocasiões, o local onde a pessoa mora, onde estudou, renda média e religião, são aspectos que são levados em consideração na seleção dos candidatos e eles estão relacionados com as oportunidades que a pessoa teve na vida.
Mas se, como vimos, as oportunidades não são as mesmas, desde a infância, para todas as pessoas, como exigir a mesma experiência? Dessa forma, o que acaba acontecendo é o reforço da estrutura racista em que vivemos e a predominância branca dentro das organizações, principalmente em cargos elevados.
Se as oportunidades para as pessoas são diferentes, bem como as vivências, talvez seja necessário mudar o olhar aos currículos e processos seletivos. Será muito difícil ter um quadro funcional diverso, se muitas pessoas já são barradas, algumas vezes sem intenção consciente, já no processo seletivo, ou antes disso.
Importante também lembrar que não haverá diversidade de ideias, soluções e inovação na organização se a maioria dos seus funcionários são brancos e a maioria dos líderes são homens brancos.
Após essa reflexão sobre a realidade que vivemos em nosso país, podemos dirigir nosso olhar para as ações que podem ser realizadas e iniciativas de impacto positivo em relação a equidade racial nas empresas.
Estratégias e ações pela equidade racial nas empresas
Ao levar a proposta de apoiar a equidade racial aos gestores da sua organização, talvez seja importante reforçar os dados que nos mostram que uma organização com diversidade étnica e cultural tem 33% mais probabilidade de performance financeira acima da média nacional do seu setor.
Mas para que a mudança seja de fato efetiva e, além da reparação histórica e papel social, a performance da organização melhore, é necessário investir em mudanças na cultura organizacional. Confira algumas sugestões para colocar em prática.
Mapeamento do cenário e sensibilização
Um dos primeiros passos pode ser o mapeamento do cenário atual da sua empresa, os preconceitos reproduzidos, os processos da jornada do colaborador, os relacionamentos entre os times, quem ocupa os principais cargos e a comunicação com os clientes e sociedade.
Com essa identificação inicial é possível realizar ações direcionadas para primeiramente fazer um trabalho de sensibilização entre as pessoas e conscientizar a todos sobre a importância da equidade racial, identificar as primeiras e principais mudanças necessárias.
É importante ter uma abordagem que convide as pessoas ao diálogo e que elas participem das ações como parceiras. Assim, elas visualizarão a importância e se sensibilizarão com as causas, querendo fazer parte da transformação.
Vagas afirmativas
“As ações afirmativas estão previstas no estatuto de igualdade racial, elas têm amparo em diversos artigos da constituição brasileira e, além disso, existe uma recomendação do Ministério Público do Trabalho que recomenda que as empresas façam trabalhos nessa diretriz.” – Ricardo Sales via Progicast.
Como comentamos, as pessoas têm oportunidades diferentes e históricos de vidas diferentes, muitas sendo impactadas pelo racismo estrutural da sociedade. Por isso, as vagas afirmativas são uma forma de reparar e equilibrar as oportunidades.
Representatividade
Você sabia que ao longo da história, pessoas negras foram retratadas como brancas, como, por exemplo, um dos maiores nomes da literatura brasileira, Machado de Assis?
A representatividade preta nas lideranças das empresas, e em outros cenários, é fundamental para a causa, pois é através dela que mudanças culturais começam a acontecer. Jovens negros, por exemplo, passarão a visualizar suas possibilidades de carreira.
Esta representatividade precisa estar dentro das organizações, em cargos de liderança e gestão. E essa foi a estratégia do Magazine Luiza em 2020, por exemplo, quando, com vagas afirmativas, iniciou um processo de contratação de trainees apenas para pessoas negras, com o objetivo de reter estes talentos e aumentar a representatividade na liderança da empresa.
Troca de livros de autores negros
“Muitas histórias contadas e protagonizadas por pessoas negras seguem esquecidas nas nossas bibliotecas pelo racismo e a universalização das narrativas.” – TAG Livros
A leitura é uma ótima forma de promover reflexões e debates acerca de um tema e pode ser uma ótima iniciativa para iniciar o trabalho de equidade racial na sua empresa. Através da troca de livros, ou grupos de discussões, será possível sensibilizar e educar os colaboradores.
Para conhecer: Vozes Negras via TAG Livros.
Corrida dos privilégios
Esta ação é inspirada na “Corrida por $100 feita de privilégios e desigualdade” e que pode ser realizada em grupos em um local com espaço para alocar as pessoas em uma linha, lado a lado, como se estivessem no início de uma corrida.
Antes de supostamente dar a largada, a pessoa que está coordenando, lerá algumas frases, pedindo que quem se identificar com elas, dê um passo à frente. Ao final, pode ser feita uma discussão para refletir sobre porque alguns largariam mais adiante na corrida e fazer a relação dela com a vida real.
Alguns exemplos de privilégios que podem ser ditos:
- Se você estudou em escola privada dê dois passos à frente.
- Se você ganhou um carro dos seus pais ou familiares dê um passo à frente.
- Se você nunca precisou ajudar sua família a pagar as contas, dê mais um passo à frente.
- Se você nunca teve medo de ser parado pela polícia por estar simplesmente andando na rua ou fazendo compras dê mais um passo à frente.
Datas para Ações
As datas podem ser utilizadas para reforçar as políticas e cultura de diversidade e realizar ações direcionadas às reflexões. Confira algumas delas:
- 21/03 – Dia Internacional contra a discriminação racial.
- 13/05 – A Lei Áurea extingue oficialmente a escravidão no Brasil.
- 25/07 – Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha.
- 23/08 – Dia Internacional para relembrar o tráfico de escravos e sua abolição.
- 18/11 – Dia Nacional de Combate ao Racismo.
- 20/11 – Dia da Consciência Negra.
- 02/12 – Dia Internacional para a abolição da escravatura.
Consultorias em Diversidade
Você também pode buscar apoiar alguma instituição ou ainda formar parcerias com empresas especializadas em diversidade e inclusão, garantindo um projeto estruturado e ações personalizadas para o cenário da sua organização.
Deixo algumas sugestões para você conhecer:
+Diversidade: consultoria em diversidade e inclusão, treinamentos em diversidade e inclusão, consultoria em comunicação para diversidade e diversidade na liderança.
EmpregueAfro: consultoria em recursos humanos e diversidade étnico-racial que trabalha com engajamento interno, estratégias de sensibilização e conscientização e a empregabilidade de potenciais talentos.
Tree Inclusão e Diversidade: consultoria e educação corporativa sobre diversidade e inclusão.
CEERT: Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades, uma organização não-governamental que produz conhecimento, desenvolve e executa projetos voltados para a promoção da igualdade de raça e de gênero.
Inspire-se e confira mais dicas:
Kit Equidade Racial nas Empresas
Para auxiliar em suas ações internas de impacto positivo pela equidade racial, preparamos um material com conteúdos que promovem a reflexão e a conscientização sobre o tema.
O Kit de Materiais contém:
- Cartazes;
- Modelo para newsletter;
- Folder: Equidade Racial nas Empresas;
- Imagens para redes sociais;
- Templates para TV Corporativa;
- Wallpaper.
Para acessar os conteúdos gratuitamente, clique aqui ou na imagem abaixo.
“A compreensão que a sociedade tem sobre o que é racismo ainda é muito rasa. As pessoas compreendem o racismo apenas quando ele se apresenta na esfera das relações sociais de forma nua. Nós ainda temos dificuldade em entender que o racismo é um sistema de dominação, que tem múltiplas camadas e que opera em variadas dimensões. Patricia Hill Collins nos alerta que o racismo pode apresentar formas específicas conforme gênero, sexualidade, status de cidadania, capacidade física e classe social.” – Winnie Bueno via revista Gama
- Questione-se: Como faço para desconstruir o meu próprio racismo?
- Pesquise, estude, conheça a história.
- Ouça e dê vazão a vozes negras.
- Racialize as discussões, interseccionalidade é essencial.
Referência: @levikaiquef
Lembre-se que as ações de mudança e impactos positivos dentro da organização precisam envolver as lideranças e a alta gestão, abrangendo aspectos culturais da empresa, garantindo assim que os projetos de diversidade sejam eficazes e fortaleçam a causa.
Compartilhe nos comentários as ações que já são realizadas na sua empresa para inspirar outras pessoas a contribuírem com uma sociedade e ambientes de trabalho com mais respeito e equidade.
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