Por Ananda Moreira

A 31ª edição do Congresso Catarinense sobre Gestão de Pessoas (CONCARH), realizado pela ABRH-SC, ocorreu neste ano de 2022, nos dias 7 e 8 de julho, em Florianópolis (SC), sendo o maior evento da área do sul do país.  

Com o retorno do evento presencial e as mudanças promovidas por todo o processo da pandemia, o tema desse ano foi “E agora? Caminhos possíveis e não tão possíveis nos novos tempos”, abordando discussões sobre quais foram as mudanças percebidas nas empresas e por quais caminhos seguir e em quais investir ou deixar de investir.  

Foram diversas palestras e dinâmicas, com mais de 30 horas de conteúdo. Palestraram profissionais referência da área de gestão de pessoas, como Marcelo Pirani, Vania Ferrari, Lala Deheinzelin, Marcelo Nobrega, Flávio Tavares entre outros nomes.  

Os palestrantes abordaram assuntos como:  

  • Conexão e inovação humana; 
  • Novos modelos de trabalho, suas consequências e seus diferenciais; 
  • Tendências globais em Gestão de Pessoas; 
  • Confiança em tempos de trabalho remoto; 
  • Employer experience e branding; 
  • E mais. 

Nós aqui da Progic participamos do evento prestigiando as palestras e também gravando a nova temporada do Progicast sobre os principais assuntos abordados no evento.  

Compartilho com vocês neste artigo alguns dos insights e reflexões que tive com as falas dos palestrantes e você pode acompanhar o lançamento dos episódios em nossa página de podcasts, em nosso canal no YouTube ou na sua plataforma preferida.  

Esperamos que nossas reflexões possam te guiar ou te inspirar de alguma forma para lidar com as mudanças desses novos tempos.  

A importância da conexão humana 

A primeira e uma das palestras mais marcantes, na minha opinião, foi a do Flávio Tavares, que falou sobre conexão e inovação humana, especialmente em tempos de excesso de conexão digital e da desumanização vista atualmente.  

Considerando o tema da edição, Flávio iniciou a palestra com um vídeo tocante, evidenciando diversas notícias relatando aumentos de desemprego, pobreza, violência doméstica, preconceito racial e mais.

Noticiários narrando cenários de corrupção, injustiça e agressão. E, por fim, concluindo com a frase “Que mundo deixaremos para eles?” 

Pai de 5 filhos, Flávio se concentrou em falar que futuro deixaremos para as próximas gerações e abordou que uma das formas de mudança de direção desse caminho seria a conexão humana, usando a analogia de “voltar aos tempos da fogueira”. 

Isto é, voltar para os tempos de conexão e comunicação ao redor da fogueira, em que as pessoas se sentavam juntas, contavam histórias e ouviam umas as outras.

O que também faz sentido nos dias de hoje, afinal, vemos que sentar ao redor de uma mesa ou em uma reunião online, por exemplo, ainda é alguma das melhores formas de ter ideias criativas e construir projetos de forma colaborativa.  

“Voltar à fogueira”, por mais que seja uma analogia simples, que remete a um hábito antigo, permanece sendo uma das melhores formas de buscar inovação. Sobretudo em tempos de alto desenvolvimento tecnológico, como o que vivemos atualmente.  

A futurista Lala Deheinzelin complementou dizendo que “quando a inovação tecnológica acontece, devemos nos concentrar na inovação humana, devemos olhar para as pessoas, não para as máquinas”. Ou seja, devemos observar o comportamento humano frente a essas inovações. 

Flávio ressaltou que nas empresas, além de fortalecer a comunicação e a conexão humana, devemos nos preocupar não só com “colaboradores melhores, mas sim com pessoas melhores”.

O que reforça a fala inicial de que “o RH não é apenas a área responsável pela comunicação entre colaborador e empresa, ele também faz a ponte entre sociedade, empresa e colaborador”.  

Ou seja, deve-se olhar não apenas para a empresa ou apenas para os colaboradores. A orientação da palestra foi observar as pessoas, estejam elas vivendo em sociedade ou em organizações.  

É preciso relembrar a responsabilidade social de cada negócio em contribuir com uma sociedade melhor, para que notícias como as compartilhadas inicialmente diminuam cada vez mais e para que haja mais conexão, não apenas internamente na empresa, mas com todas as pessoas ao nosso redor.  

E os benefícios da conexão humana não são apenas para a sociedade, já que a cultura da empresa é nutrida pelas pessoas que a compõe. Assim, “sentar ao redor da fogueira”, escutar, educar e debater novas ideias, sempre trará bons frutos, seja para as pessoas, para a sociedade ou para as organizações. 

Você tem se conectado consigo mesmo? 

Seguindo no tema da conexão, Eugênio Mussak e Luciana Pirani, abordaram o tema da reconexão consigo mesmo. O casal é produtor da revista “Vida simples”, que traz conteúdos transformadores e promove reflexões acerca do modo de viver. 

Eugênio começou a palestra comentando sobre uma pesquisa realizada em diversas empresas, que questionava acerca das expectativas que as empresas tinham das pessoas que contratavam e quais as expectativas das pessoas nesse processo.  

De forma geral, uma empresa espera do funcionário: que estes entreguem resultados, que agreguem valor à empresa e que tenham comprometimento e engajamento.  

Já os funcionários esperam que a empresa reconheça os resultados que são entregues (seja através de remuneração, benefícios, reconhecimento etc.), esperam a possibilidade de se desenvolver e de sentir orgulho de fazer parte da organização. 

Nesse sentido, Eugenio ressalta que o RH funciona como um mediador de expectativas e que “a relação só vai dar certo se as expectativas dos dois forem atendidas”. 

No entanto, apesar de obter alguns esclarecimentos a partir dessas informações, Eugenio mencionou que um determinado questionamento o fez refletir muito sobre essa pesquisa: 

“Vocês perguntaram o que um espera do outro, mas não perguntaram algo bem importante: o que as pessoas esperam delas mesmas.” 

Quem nunca sofreu com excesso de cobranças, sejam elas internas ou externas? Quem nunca se sentiu insuficiente por não satisfazer determinadas expectativas? E quem também viveu a frustração de querer, mas não viver de acordo com elas? Mas, afinal, que expectativas andamos tendo? 

Assim, como reafirmaram Felipe Suhre em sua palestra sobre conexão interna e vulnerabilidade e Flávio quando falava de conexão humana, para nos conectarmos com os outros, primeiro precisamos nos conectar conosco mesmos.  

Isso ficou ainda mais evidente com a pandemia, período em que tivemos de nos isolar e conviver diretamente – e somente, na maior parte das vezes – com a gente mesmo.

Percebemos que havíamos esquecido o que nos dá prazer, o que nos deixa felizes, o que nos dá realização, o que nos move, o que nos faz acordar e querer levantar. 

Vimos ainda que a ideia de bem-estar e saúde mental passou a ganhar mais importância, haja vista os prejuízos deixados pela pandemia e também pela desigualdade socioeconômica, que vem atingindo cada vez mais pessoas.

Então, nos perguntamos, que práticas podemos inserir em nosso dia para nos conectar mais conosco mesmos? Que práticas nos proporcionam bem-estar de forma verdadeira? 

Pessoas que se conectam consigo mesmas passam a conhecer os próprios limites e sabem como impô-los. Também sabem como descansar e se desligar do trabalho, para retornar mais energizadas e motivadas. E sabem, ou têm uma noção, do que lhes traz realização e dos objetivos que desejam alcançar.  

Diante disso, deixo alguns questionamentos para você refletir:

Como buscar conectar uma empresa inteira sem antes cuidar das próprias conexões? E, além disso, como permitir e incentivar que as outras pessoas também busquem se conectar consigo mesmas sem mostrar esse exemplo?  

Novos modelos de trabalho  

Não é nenhuma novidade que a pandemia acelerou o processo que já vinha acontecendo de migração dos escritórios presenciais para o trabalho remoto, incentivando também uma maior flexibilização de horários.  

Nem todos os setores sentiram esse impacto, mas grande parte das empresas passaram a adotar esse formato e mesmo com a possibilidade de retorno ao presencial em 2022, algumas permaneceram ou permanecerão no remoto. E algumas ainda escolheram voltar ao que eram em 2019.  

Como todos os modelos, o remoto possui suas vantagens e desvantagens. Mas a principal desvantagem se escancarou nesse tempo de isolamento: o distanciamento da cultura corporativa. Há a dificuldade em superar a estrutura física da empresa e representá-la no online.  

A cultura é um elemento fundamental no sucesso de uma organização. Agora, mais do que nunca, é necessário estudar formas de deixá-la em evidência e vivenciá-la em outros formatos de trabalho para que os colaboradores continuem se sentindo parte dela.  

Marcelo Nobrega falou sobre o assunto e colocou em tópicos os principais benefícios e dificuldades de cada modelo: presencial, híbrido e remoto. 

CONCARH 2022: E agora? Para onde vamos? - Aprendizados do 31º Congresso Catarinense sobre Gestão de Pessoas

Além disso, o palestrante ressaltou que não há um modelo ideal e que ele deve ser escolhido de acordo com cada equipe. Sim, cada equipe, não necessariamente cada empresa.

Nem sempre você precisará de uma política de home office ou trabalho híbrido que se aplique de modo geral a todos. É necessário testar e vivenciar o que faz sentido para cada equipe.  

Ou seja, é preciso estar atento às mudanças e às demandas de cada equipe, pois esse distanciamento provocado pelo home office pode acabar reduzindo a criatividade e a inovação, considerando que as conversas “ao redor da fogueira” podem proporcionar novas formas de pensar e resolver problemas.  

Por isso, as empresas têm pensado e adaptado modelos de trabalho que se adequem a realidade de cada uma. Marcelo cita o exemplo da Nubank, que trabalha 2 meses em home office e uma semana presencialmente.

O segredo é testar novos modelos e ver o que melhor se encaixa em sua realidade.  

Nobrega destacou ainda a importância de uma escuta atenta por parte das lideranças, que são peças fundamentais na empresa. Mas que, apesar de estar atento às inovações, o líder deve ter cuidado com a já conhecida FOMO (Fear of Missing Out), ou “medo de ficar de fora”.  

Isso quer dizer que ele deve acompanhar as mudanças, mas não sair testando todas as novas táticas de uma única vez, todos os novos métodos ou métricas que encontrar.

Algumas coisas ainda são testadas apenas pelo tempo, sendo ele quem dirá se funcionarão ou não.  

Quais futuros nos aguardam?  

A futurista Lala Scheheinke e o empreendedor Walter Longo falaram muito sobre os futuros que nos aguardam.  

Inicialmente, Lala destacou que estamos passando por uma das maiores e mais rápidas transições da história, e que quando as coisas mudam, o nosso foco sempre deve estar nas pessoas.

Com isso, o RH se torna cada vez mais estratégico e protagonista, buscando novas formas de treinar, selecionar, engajar, escutar e liderar as pessoas mediante a essas mudanças.  

Uma das principais skills necessárias para esse cenário, segundo Lala, é desenvolver a capacidade de despertar o desejo de mudança nas pessoas.  

Além disso, ela relembra o esquema de biologia que aprendemos na escola sobre agrupamentos. Primeiro há os átomos, um agrupamento de átomos forma uma molécula, moléculas juntas formam células, células formam um órgão e por aí vai.

A mensagem que ela traz é que: “a vida QUER se organizar de forma colaborativa”.  

Por isso, um dos principais desafios do RH de hoje é fazer com que os indivíduos parem de pensar como células, de forma individual, e passem a pensar e escolher como organismos, como parte de uma organização, o que reflete o valor da “colaboratividade”.  

Relacionado a este tema, relembro a fala de Luiza Trajano, que também palestrou no evento, falando que esse é o momento de fazer uma análise e observar três pontos: “o que conservar”, “o que eliminar” e “o que inovar”. Levando em conta também o destaque de Lala quando diz que “quando tudo muda, devemos observar o que não muda”.  

E uma das coisas que vem mudando, sem a gente perceber, é a existência de outra realidade. Como assim? Você já ouviu falar em “Metaverso”? 

Famoso entre uns, desconhecido por outros, o Metaverso vem se desenvolvendo de forma rápida. Grandes empresas como Adidas, Nike, Boticário, Gucci e Coca Cola já estão conquistando seu espaço por lá.  

Apesar de revelar uma das grandes fraquezas humanas, de não conseguir se satisfazer com a própria realidade, o Metaverso também traz uma possível resposta para o distanciamento decorrente do trabalho remoto.  

O Metaverso funciona quase como uma “realidade paralela”, onde há cidades, lojas, construções, organizações, mercados e tudo o mais que compõe o nosso mundo. Por lá você pode construir uma casa ou alugar um apartamento, comprar roupas, se vestir e, sobretudo, ser da forma que desejar ser, pagando tudo com o dinheiro real.

Basta usar seus óculos de realidade virtual e estará em uma realidade diferente. 

Superando os aspectos problemáticos dessa nova realidade, já é possível construir uma sede da empresa e se reunir, ainda que de forma remota, no Metaverso. Ainda que seja parecido com uma reunião, é vivenciado de forma diferente e pode vir a suprir esse distanciamento da cultura atrelado à falta de estrutura física.  

Diante de uma, ou mais realidades, o que podemos fazer é focar na colaboração e  no que podemos fazer agora, nesse momento, já que, como Lala destacou: “o futurista é, na verdade, presenteísta”. 

Tendências para os novos tempos 

Pensando em quais caminhos seguir ou deixar de seguir, os palestrantes abordaram diversos temas, que posso resumir em alguns tópicos para você buscar se aprofundar naqueles que fizerem sentido.  

De modo geral, podemos ver que “tudo diz respeito às pessoas”

Sobre propósito corporativo, Walter Longo mencionou que o conceito vem evoluindo rápido e que atualmente não há mais “what business are we in” (em que negócio nós trabalhamos), nem “what problems are we solving” (quais problemas nós resolvemos).

Agora falamos em “what dreams are we fullfiling”, ou melhor, quais sonhos estamos satisfazendo

Além disso, pautas que retornaram nesse CONCARH e que possivelmente ainda retornarão nas próximas edições, é a inclusão da diversidade nas empresas, que não se trata só sobre contratar e promover pessoas com inclusão, mas também oferecer suporte, acolhimento e, sobretudo, informação a todos.  

Como mencionamos no início, a responsabilidade social tem se evidenciado. E as empresas, sobretudo o setor de RH, devem reagir a isso. Luiza Trajano, fundadora da Magazine Luiza, considerada uma das empresas líderes em inclusão, menciona ainda o protagonismo do setor em punir e impedir atos de preconceito e acolher aqueles que foram agredidos.  

Já abordamos diversos assuntos relacionados às causas sociais aqui no blog, falando sobre formas de debater esses assuntos na empresa, ações para contribuir com as causas e disponibilizando Kits de Materiais de Endomarketing gratuitos.

Você pode conferir o nosso ebook sobre Diversidade nas Organizações ou acessar os artigos sobre os demais temas. 

Outro tema que está muito em alta e que também foi debatido no evento, foi o employer branding e a retenção de talentos. Uma frase mencionada em uma roda de debate que gostaria de destacar foi: 

“Não devemos querer reter talentos, reter nos lembra algo preso, algo trancado. Devemos fazer com que os talentos queiram permanecer, não que eles sejam ‘retidos’.”  

Devemos querer reter talentos a todo custo? Pessoas que ficam na empresa apenas por uma boa remuneração ou bons benefícios nem sempre serão aquelas que mais trarão resultados.  

Criar um ambiente de valorização, confiança e comunicação, abre espaço para que as pessoas desejem permanecer na empresa e contribuir para o propósito dela. Isso sim é a verdadeira “retenção” de talentos.  

Um contraponto, na própria roda de debate, é que, por vezes, precisamos reter alguns talentos, pelo menos até chegar o momento em que esse ambiente de valorização e confiança seja percebido por eles. 

E, por fim, relembrando um dos tópicos mais discutidos nessa edição do CONCARH, ao abordar o   modelo home office e suas consequências, nós devemos falar sobre confiança.

Com esse modelo, não só nos distanciamos da cultura, como também abrimos mão do controle do que acontece, mas ao mesmo tempo, surge a oportunidade de desenvolvermos a confiança.  

Não é apenas um ditado popular quando dizem que “a base de todo relacionamento é a confiança”. Um relacionamento envolve muitos outros fatores, no entanto, na maioria dos casos, é necessário que se ofereça um pouco de confiança para então colher os resultados.  

É necessário abrir mão do controle, permitir a flexibilidade, observar e dar feedbacks para que se possa construir uma relação com confiança e, principalmente, com colaboratividade. Assim se plantarão as sementes de grandes resultados.  


Esses foram alguns dos insights que eu tive ao entrar em contato com as palestras desta edição do CONCARH e espero que eles esclareçam ou te inspirem de alguma forma. Inclusive, já abordamos outros temas e tendências ao escrever sobre as edições do CONCARH de 2018 e 2019, que você também pode conferir.  

Ouça o primeiro podcast do CONCARH 2022:

 

 

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Escrito por Ananda Moreira

Estudante de Psicologia e encantada por Marketing, gosto de pensar que a comunicação e o estudo do comportamento humano é o que une as duas áreas e o que me faz ser tão atraída por ambas. Apaixonada por livros, escrita, vídeos de gatinho e musculação, vivo em busca de novos aprendizados.
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