Por Higor Lima
CONFLUIR. Verbo associado ao ato de reunir, juntar, promover o encontro simultâneo entre duas ou mais coisas em um mesmo ponto.
Negócios e pessoas são capazes de confluir?
Esse e outros questionamentos puderam ser refletidos no Concarh 2019, promovido pela Associação Brasileira de Recursos Humanos de Santa Catarina (ABRH-SC), em Florianópolis/SC.
Durante os dias 11 e 12 de julho, o espaço reuniu mais de duas mil pessoas que se dividiam entre 5 espaços simultâneos para acompanhar 70 palestrantes que compartilharam suas experiências, mostraram o que é tendência na gestão de pessoas e trouxeram reflexões importantíssimas para o crescimento profissional e pessoal de quem estava por lá.
Neste artigo, apresento uma resenha com os principais insights que tive acompanhando a 29° edição do evento e compartilho com vocês um pouco dos ensinamentos que trouxe para a casa.
Boa leitura!
Confluir negócios e pessoas
É quase impossível desassociar a imagem do nosso cotidiano com o uso da tecnologia, não é mesmo? Esse recurso entrou como facilitador em muitos processos da nossa vida: entreter, informar, comprar, vender, trabalhar…
Espera aí, trabalhar?! É justamente nesse ponto que quero abrir nossa conversa.
Segundo pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), nos últimos dois anos, aumentou em 10 pontos percentuais o número de indústrias brasileiras que utilizam tecnologias digitais.
As empresas hoje investem em tecnologia para automatizar processos, melhorar suas performances, reduzir custos e lucrar mais. E o quadro de que 48% das grandes empresas brasileiras pretendem investir em tecnologia só prova por A mais B que a era digital está aí para nos ajudar.
E seria maravilhoso que o “felizes para sempre” existisse e fosse assim, perfeito e positivo, todos os dias de nossa vida.
A evolução que vem acontecendo é legal e preciso, mas existem pontos que estão caindo no esquecimento e precisam urgentemente serem atentados. Vania Ferrari, no seu painel “Inteligência artificial em tempos de burrice natural” ilustra muito bem esse cenário. Empresas estão investindo em tecnologia e esquecendo de investir em capacitações humanas.
Os recursos tecnológicos são ótimos para auxiliarem nos mais diferentes processos dentro de uma organização, mas os gestores e empresários estão esquecendo que a tecnologia é apenas o facilitador do processo mas as pessoas ainda são o eixo para fazer a empresa funcionar.
“É muito importante não por a tecnologia na frente das pessoas e sim ao lado. Quem desenvolve, quem programa, quem monta um hardware é gente e essas pessoas precisam estar treinadas. […] Quando a gente chama a artificialidade em inteligência estamos cometendo um erro básico: a inteligência é um processo bioquímico, só você e eu conseguimos ser inteligentes. A máquina consegue pegar um monte de informações e fazer uma curva de tendência para você, mas ela não sabe ser criativa em cima disso. Então são sempre os homens e mulheres que continuarão imputando informação para que os computadores façam o trabalho dele – só que se entrar informação errada, sai informação errada. Precisamos formar as pessoas para que elas sejam corretas na hora de imputar dados”, Vania Ferrari.
E agora várias dúvidas começam a fundir em nossa mente. Mas calma, a ideia aqui não é ser contra a revolução digital (pelo contrário, ela é ótima), a mudança de mindset está na forma que você dá importância para a tecnologia em relação ao olhar humanizado sobre as pessoas e processos dentro da sua empresa.
Mas vamos por partes, ok?
Vamos falar de pessoas?
Se recuperarmos um histórico, percebemos que antes da revolução industrial os negócios eram focados em processos e menos em pessoas. Bem-estar do colaborador, condições de trabalho, propósito das pessoas e felicidade quiçá eram pautas nas reuniões entre gestores.
Mas essa realidade mudou (ainda bem!) e as empresas começam a perceber que quanto mais engajados, treinados e felizes estivessem seus colaboradores mais lucro a empresa tinha.
Compartilho uma frase de Pedro Salomão, que comandou o painel “Faz sentido pra você?”, que me trouxe a resposta para muitos questionamentos.
“Estamos vivendo na era do amor. O botão de curtir do Instagram representa isso, o emoji de coração é o mais usado no mundo. Mas quando começamos a trabalhar esse conceito de amor mais amplo, começamos a ressignificar esse olhar para o humano. O que a gente faz hoje é viver no individualismo, colocamos pessoas dentro de quadrantes porque estamos vendo elas como todas iguais e isso não pode. O sucesso está na conexão com as pessoas. Se você tiver menos tempo para pessoas e mais tempo para outras coisas, você está fazendo o caminho contrário do sucesso”, Pedro Salomão.
É isso! Olhe para o seu colaborador como um aliado para o sucesso. Entenda as necessidades dele, alinhe os propósitos da empresa com os dele, construam de fato uma relação e usem da tecnologia para facilitar a caminhada para o sucesso – mas não dê essa responsabilidade única e exclusivamente para a tecnologia.
“Damos valor só para grandes conquistas, mas pequenas vitórias são tão especiais e até maiores que as grandes. […] É meio clichezão falar isso, mas isso vai desde um bom dia que você dá para o cara que te encontra todo dia até coisas maiores, do tipo fazer um programa de TV. Eu acredito muito no gesto de transformação com vínculo nos pequenos gestos do dia a dia” Gustavo Ziller, no painel “Pessoas e negócios… Onde as ‘coisas’ se encontram?”
Representatividade é preciso!
Já ouvi dezenas de vezes o ditado “cada macaco no seu galho” quando o assunto é reunir pessoas com diferentes pensamentos em um mesmo projeto. Mas será mesmo?
No painel “Expanda seu mundo” com Marcelo Pirani e Hugo Kovac, tive uma reflexão muito interessante: é importante que equipes discutam!
Cada pessoa carrega consigo uma bagagem diferente, baseada no que viveu e estudou. O confronto de ideias, os pontos de vistas diferentes, a discussão fazem parte do relacionamento e é normal (e necessário), que elas aconteçam entre as equipes.
“As equipes de alta performance tem uma comunicação aberta, um diálogo, tem feedback entre si e clareza onde querem chegar e se comunicam muito melhor que outras equipes” Marcelo Pirani.
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Claro que o respeito não precisa nem ser mencionado aqui, ele é princípio básico para qualquer situação. Mas conflitar visões faz com que a representatividade esteja presente na sua empresa, faz com que mais vozes sejam ouvidas e tudo isso reflete no sucesso.
Volto a mencionar Pedro Salomão, que diz que o termo tolerância está na moda, mas ao mesmo tempo em desuso.
Engraçado, né? Mas é isso mesmo que acontece. Defendemos uma causa, brigamos para que ela seja aceita mas na primeira oportunidade que temos de encontrar pessoas que pensam diferente da gente, clicamos no botão “unfollow”.
“Falamos tanto de tolerância mas entramos em uma era de bolhas e mídias sociais. O comportamento de viver nessas bolhas, com pessoas que pensam como você faz com que a gente nessa era [do amor] transforme o oposto de amor não em ódio, e sim em indiferença”, Pedro Salomão.
E é nessa parte que quero aproveitar para mencionar outro painel que me instigou bastante durante o Concarh 2019. “Em que mundo você vive?” reuniu Rodrigo Santini e Maite Schneider no mesmo palco para discutir sobre diversidade.
“Esses processos de exclusão que foram acontecendo e acontecem muito frequentemente na vida de quem está fora dessa normativa, é imputada por uma sociedade extremamente cruel dentro do seu binarismo e acaba criando uma série de afastamentos. O que eu posso fazer dentro do meu micro para atingir o micro do outro? Eu não digo nem o macro, porque é uma questão de tempo… Mas a aceitação da diversidade vai em mudar meu micro para aceitar e entender o micro de quem está do meu lado. Eu acredito na mudança do indivíduo para o coletivo e a em um mundo que não haja fronteiras, que sejam mais horizontais e que as coisas sejam feitas mais com pontes”, Maite Scheneider.
“Você vai começar a aprender muitas vezes o que é inclusão em uma cultura [corporativa] quando você têm as pessoas diversas dentro da empresa diversa. Por isso que diversidade nunca é um processo que acaba, quanto mais você tem dentro de casa, mais você tem que aprender, mais você tem que melhorar, mais você tem que pensar de formas diferentes. É um contínuo aprendizado”, Rodrigo Santini.
Ainda não acabou…
O legal do Concarh 2019 é que o evento reuniu 70 palestrantes para falar dos mais diversos assuntos. E um painel super interessante de destacar é do Dr. Fabiano Moulin de Moraes que falou sobre “Neurologia do comportamento, o caminho para o equilíbrio”.
A depressão já foi considerada o mal do século e o individualismo está presente cada vez mais presente no nosso dia a dia.
Segundo pesquisa, a solidão é o maior risco para o futuro dos jovens,- justamente aqueles que começaram a entrar no mercado de trabalho. E por isso é tão importante que as empresas não só pensem em relacionamento humano, como saúde mental de seus colaboradores.
“No dia a dia a gente considera saúde como silêncio do corpo. Se eu não reclamo é porque estou saudável. E não é assim, esse comportamento vem fazendo com que a gente tenha uma epidemia de outras doenças como depressão, ansiedade, desatenção… […] O que cabe às empresas é criar um ambiente e situações que influenciam positivamente as tomadas de decisão do seu colaborador”, Fabiano Moulin
Mas como criar ambientes e situações para influenciar o colaborador?
Sidnei Oliveira, no painel “Quem ensina, aprende”, explica que hoje é possível encontrar em uma mesma empresa cinco gerações diferentes. E é óbvio que a tendência desse convívio entre gerações é aumentar.
E ao mesmo tempo que encontramos veteranos tendo que se reinventar, temos que lidar com jovens ansiosos. Mas não é um ambiente colorido, com escorregador que vai ser a solução para influenciar na felicidade do colaborador.
Sabe onde está o segredo? Nos RELACIONAMENTOS HUMANOS!
É incrível como tudo se conecta, porque se de um lado temos veteranos tendo que trabalhar por mais tempo (porque a expectativa de vida aumentou), se reinventar para continuar na empresa e lidar com toda a insegurança de ser demitido ou não. Do outro lado temos jovens com uma bagagem muito grande de informações teóricas, ansiosos e impacientes com seus futuros mas sem a experiência.
E nesse momento entra as relações, capazes de construírem um ambiente engajador para todos os perfis e potencializando a capacidade de cada um.
“Hoje não se pode pensar em carreira como se pensou no passado. Não temos mais uma relação vinculada com determinada empresa ou com determinado cargo. Isso não é mais a realidade de ninguém. A relação do profissional com o trabalho está se alterando e hoje é feita muito mais em cima de um projeto profissional que gere um resultado de valor pessoal”, Sidnei Oliveira.
Gostou desse artigo? Em agosto lançaremos a 4° temporada do Progicast, gravada especialmente no Concarh 2019 com alguns palestrantes. Os áudios estarão disponíveis tanto aqui no blog, como também no Spotify.
Te espero por lá!