Perfis de liderança inspirados nos arquétipos do reino animal

Neste fim de semana, uma conversa aqui em casa com minha amiga Regina, que é psicóloga, despertou uma reflexão interessante sobre arquétipos liderança perfis eficazes. Ela mencionou um estudo que ligava arquétipos animais à psicologia humana…

O que encontrei me permitiu fazer uma analogia pertinente: traçar um paralelo entre o comportamento, as hierarquias e as táticas de sobrevivência dos animais e os desafios da liderança.

A teoria dos arquétipos animais foi explorada por diversos estudiosos da psique humana, mitologia comparada e simbolismo cultural, e diz que certas características instintivas e comportamentais observadas em diferentes espécies animais ressoam com aspectos universais da experiência humana.

Esses arquétipos, com raízes em conceitos desenvolvidos por teóricos como Carl Jung, que os identificou como parte do inconsciente coletivo, funcionam como padrões simbólicos que representam qualidades intrínsecas – como a força e a visão do leão, a inteligência social do chimpanzé ou a sabedoria da coruja.

Ao reconhecer essas qualidades nos animais, a teoria oferece uma lente metafórica para compreender traços de personalidade, motivações, dinâmicas sociais e estilos de liderança e em como interagimos com o mundo.

Arquétipo do Leão: visão e proteção na construção de perfis eficazes de liderança

• Características: força, coragem, visão clara, proteção da equipe, presença imponente.
• Exemplo de líder: Winston Churchill. Durante a Segunda Guerra Mundial, sua retórica poderosa, visão e coragem inspiraram uma nação a resistir, personificando o líder que protege seu “território” e seu povo com ferocidade e determinação. Outro exemplo poderia ser Martin Luther King Jr., cuja visão de igualdade e coragem moral inabalável lideraram um movimento transformador.

O lobo: a inteligência coletiva e a força da matilha

• Características: cooperação, trabalho em equipe, inteligência social dentro do grupo, foco no bem comum da “alcateia”.
• Exemplo de líder: Phil Jackson, ex-técnico da NBA. Ele era mestre em fazer com que estrelas individuais (como Michael Jordan e Kobe Bryant) trabalhassem de forma coesa como uma unidade, valorizando a inteligência coletiva e a harmonia do time acima do brilho individual, muito como uma alcateia eficiente.

Águia: um dos perfis eficazes mais ligados à visão estratégica

• Características: visão de longo alcance, planejamento estratégico, capacidade de ver o “todo” de uma perspectiva elevada, identificação de oportunidades e ameaças distantes.
• Exemplo de líder: Steve Jobs. Ele não apenas via onde a tecnologia estava, mas para onde ela poderia ir, antecipando tendências e criando produtos que moldaram o futuro. Sua capacidade de enxergar o “próximo grande lance” e de manter um foco estratégico elevado, mesmo sob pressão, era verdadeiramente aguçada. Outro exemplo é Jeff Bezos, com sua visão de longo prazo para a Amazon, capaz de identificar e investir em futuros mercados muito antes de se tornarem óbvios.

O chimpanzé: maestria da inteligência social e astúcia política

• Características: habilidade em construir alianças, inteligência social, astúcia política, gestão de relacionamentos.
• Exemplo de líder: Juscelino Kubitschek (JK). Para realizar seu audacioso plano de metas, incluindo a construção de Brasília, JK demonstrou uma notável habilidade em construir amplas alianças políticas, utilizando seu carisma e inteligência social para unir diferentes interesses. Sua astúcia política foi essencial para navegar em um cenário complexo e gerenciar os relacionamentos necessários para concretizar sua visão de desenvolvimento para o Brasil.

O cachorro: lealdade inabalável e espírito de equipe contagiante

• Características: lealdade, entusiasmo, proteção, espírito de equipe, confiabilidade.
• Exemplo de líder: Bernardinho (Bernardo Rezende). Como técnico das seleções brasileiras de vôlei, ele personificou a lealdade aos seus jogadores, um entusiasmo contagiante à beira da quadra, e foi um mestre na construção de um espírito de equipe coeso e vitorioso, protegendo e motivando seus atletas incansavelmente.

O gato: independência estratégica e observação

• Características: autonomia, observação aguçada, paciência estratégica, adaptabilidade, autossuficiência.
• Exemplo de líder: Coco Chanel. Ela revolucionou a moda com uma visão independente e uma forte dose de autoconfiança, observando as necessidades das mulheres de sua época e agindo com autonomia.

Formigas e abelhas: disciplina da organização e ética do trabalho coletivo

• Características: organização, disciplina, trabalho árduo, foco no processo, contribuição individual para o bem maior.
• Exemplo de líder: Ray Kroc (McDonald’s). Ele criou um sistema incrivelmente organizado e disciplinado que permitiu a expansão global da rede, onde cada parte do processo era meticulosamente planejada.

O leopardo: precisão solitária e força estratégica

• Características: especialização, autonomia, foco, precisão, ataque estratégico e eficiente.
• Exemplo de líder: Ozires Silva, um dos fundadores e primeiro presidente da Embraer. Ele personificou a liderança do leopardo ao focar intensamente na criação de uma empresa altamente especializada no nicho de aviação regional. Com autonomia e visão estratégica precisa, liderou o desenvolvimento de aeronaves que competiram globalmente, “atacando” um mercado específico com produtos de alta tecnologia e eficiência. Sua capacidade de identificar uma oportunidade, concentrar recursos e executar com precisão foi fundamental para o sucesso da Embraer.

O cavalo: nobreza resiliente e parceria sensível

• Características: força, resistência, nobreza, sensibilidade ao grupo, liderança através da parceria e confiança.
• Exemplo de líder: Rainha Elizabeth II. Durante seu longo reinado, demonstrou resiliência, uma presença nobre e capacidade de adaptar-se, mantendo uma conexão com seu povo.

A carpa: perseverança serena e visão de prosperidade

• Características: perseverança, resiliência, calma, superação de obstáculos, visão de longo prazo para crescimento e harmonia.
• Exemplo de líder: Soichiro Honda. O fundador da Honda enfrentou inúmeros fracassos, mas perseverou com uma visão clara para construir uma das maiores fabricantes de automóveis e motocicletas do mundo.

O golfinho: comunicação fluida e colaboração lúdica

• Características: comunicação eficaz, colaboração, empatia, adaptabilidade, inteligência social.
• Exemplo de líder: Silvio Santos. O icônico empresário e comunicador brasileiro é a personificação do golfinho no mundo dos negócios. Mestre na comunicação de massa, ele construiu seu império com base em uma inteligência social profunda, adaptabilidade impressionante e, fundamentalmente, uma abordagem carismática e lúdica que cativou o Brasil por gerações. Seus programas e empreendimentos demonstram uma capacidade ímpar de se conectar com o público de forma divertida e engajadora, navegando no complexo mundo empresarial com a agilidade e o carisma de um golfinho.

A coruja: sabedoria ponderada e observação silenciosa

• Características: Sabedoria, observação atenta, análise profunda, tomada de decisão ponderada.
• Exemplo de líder: Pedro Passos, um dos fundadores da Natura. Ele exemplifica a liderança da coruja através da construção de uma empresa fundamentada em princípios de sustentabilidade e uma visão de longo prazo. Sua abordagem nos negócios sempre envolveu análise de contexto socioambiental e decisões estratégicas ponderadas, focadas na criação de valor compartilhado e no impacto positivo, refletindo a sabedoria e a capacidade de observação atenta do arquétipo.

O elefante: memória ancestral, empatia e liderança matriarcal

• Características: Experiência, memória institucional, empatia, estabilidade, proteção do grupo.
• Exemplo de líder: Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza. Ela personifica a liderança do elefante ao guiar uma das maiores varejistas do Brasil com base em vasta experiência, mantendo a “memória institucional” e os valores da empresa durante sua massiva expansão. Sua gestão é marcada pela empatia e proteção de seu “time”, promovendo um ambiente inclusivo e construindo um legado de estabilidade e crescimento com visão de longo prazo, como uma matriarca que zela por sua manada.

A hiena: o oportunismo destrutivo e a liderança cínica

• Características (negativas): oportunismo exacerbado (espera a fraqueza ou o infortúnio alheio para se beneficiar), promoção da desunião para ganho próprio, cinismo, comunicação depreciativa ou zombeteira que mina a moral, foco na autopreservação a qualquer custo, exploração de crises para benefício pessoal em detrimento do grupo ou da organização. Cria um ambiente tóxico de desconfiança e medo.
• Exemplo de anti-líder: no mundo corporativo, líderes que ascendem sabotando colegas, roubando ideias ou que se alegram com o fracasso de divisões concorrentes para parecerem melhores, incorporam esse arquétipo negativo. Pense em líderes que constantemente buscam bodes expiatórios e nunca assumem responsabilidade, agindo de forma similar a hienas que se aproveitam de presas já enfraquecidas por outros. Figuras históricas ou da ficção que manipulam e traem para ganho pessoal também se encaixam aqui.

Liderança flexível: a orquestração de ecossistema

O interessante dessa exploração é perceber que um líder eficaz não se encaixa em um único molde animal. Pelo contrário, sabe evocar diferentes qualidades positivas, dependendo da situação. Grandes líderes da história mostraram essa capacidade de adaptação: a coragem do leão em um momento, a colaboração do lobo em outro, a sabedoria da coruja quando a reflexão era necessária – e, fundamentalmente, a habilidade de evitar os comportamentos destrutivos, como os da hiena.

A liderança, então, se torna uma jornada de autoconhecimento para usar a “sabedoria animal” de forma construtiva. Como Hersey e Blanchard destacaram em sua teoria da Liderança Situacional, o estilo mais eficaz é aquele que se ajusta às necessidades da equipe e ao contexto.

No fim das contas, olhar para o reino animal – e para exemplos humanos, bons e ruins – não é só uma curiosidade. É uma fonte rica de aprendizado e alerta. Reconhecer e cultivar os “espíritos animais” positivos que existem em nosso potencial de liderança, e ao mesmo tempo estar ciente dos padrões negativos, nos ajuda a sermos líderes melhores e indivíduos mais completos. A natureza e a história prática da liderança têm, de fato, muito a nos ensinar.

E você, com quais arquétipos tem mais familiaridade?

Espero que tenha gostado deste artigo. Até a próxima news!

Abraço