Por Autor Convidado
Recentemente, vivi três momentos distintos, em empresas e eventos, que me deixaram com uma pulga atrás da orelha sobre o desafio de tornar a comunicação interna relevante hoje. Não pela estética das campanhas, nem pelas estratégias bem desenhadas, mas pelo simples fato de muita coisa não estar chegando nas pessoas.
O problema? Talvez não seja apenas de canal, formato ou frequência. Talvez o buraco seja mais embaixo: as pessoas simplesmente não estão conseguindo consumir o que a comunicação entrega.
Três retratos do excesso:
1. O executivo e as 400 mensagens não lidas
Durante um evento de comunicação, um executivo compartilhou: “Estou com mais de 400 mensagens de WhatsApp não lidas. Só desta semana.”
Ao lado, outro completou: “Eu tenho 213. E nenhuma condição de acompanhar tudo.”
2. O coordenador da fábrica e a caixa de e-mails estourada
Em visita a uma fábrica, um coordenador revelou que sua caixa de entrada está cheia há tanto tempo que parou de acompanhar e-mails. O WhatsApp? Ele simplesmente não vê mais.
“Trabalho por demanda. Quando alguém vem até mim, resolvo. Senão, fica.”
3. A gerente de RH e os 1.500 e-mails
Em outra empresa, fui marcar uma reunião com uma gerente de RH. Ela me respondeu:
“Fábio, estou com 1.500 e-mails não lidos. Na tela. E não são antigos.”
Dois pontos de reflexão para nós da Comunicação Interna
1. Estamos ajudando ou atrapalhando a comunicação interna relevante?
Quantas dessas 400, 213 ou 1.500 mensagens são da área da Comunicação Interna? Quantas eram realmente necessárias? Quantas foram lidas?
A pergunta que me faço como professor e consultor de comunicação é: “Será que estamos apenas enchendo a caixa ou realmente formando, informando e conectando as pessoas?”
O excesso, muitas vezes, vem da nossa boa intenção de “garantir que a mensagem chegue”. Mas esse impulso pode estar contribuindo para o próprio ruído que queremos combater. Mais e-mails, mais WhatsApp, mais comunicados… não é sinônimo de mais compreensão.
Talvez seja hora de redescobrir o telefone. Ou melhor: a conversa. Voltar ao básico pode ser, paradoxalmente, o mais estratégico.
2. Relevância não nasce do envio, nasce da escuta
O segundo ponto talvez seja o mais sensível: como tornar a Comunicação Interna relevante em um ambiente onde as pessoas estão sobrecarregadas, distraídas e atoladas em demandas?
A resposta pode parecer frustrante à primeira vista: não existe uma receita única.
Mas existe um caminho: a escuta ativa e a presença. Só consigo enxergar esse cenário, de mensagens ignoradas, e-mails acumulados e informações perdidas, quando estou na linha de frente:
- Conversando com líderes no chão de fábrica
- Sentando ao lado de um coordenador
- Perguntando de forma genuína o que chega, o que não chega, o que faz sentido
- Sem isso, a gente corre o risco de se tornar excelentes emissores de mensagens… que ninguém lê.
Algumas provocações práticas:
Em vez de automatizar tudo, podemos customizar mais?
- Será que para aquele líder da produção, o melhor canal ainda é o mural ou um papel entregue na mão, com um bate-papo de 3 minutos?
- Será que vale mais uma conversa informal com um grupo do que 5 artes de e-mail marketing?
- Será que, em alguns casos, uma ação presencial simples e direta não comunica mais que 3 mensagens digitais?
Conclusão: O papel do comunicador não é só escrever. É interpretar.
O verdadeiro trabalho da Comunicação Interna estratégica começa antes e depois do comunicado ser enviado.
É no entendimento do que funcionou (ou não), do que chegou (ou não), e no ajuste fino da entrega para cada realidade que está o valor do comunicador.
A Comunicação Interna eficaz não nasce no computador. Ela nasce na conversa. No café. No corredor. No chão da fábrica. No campo.
Relevância é entender o ritmo das pessoas. E, para isso, às vezes, precisamos desligar o computador, sair da sala e voltar a ouvir.
Espero que tenha boas reflexões
Fábio Di Renzo é publicitário, especialista em Gestão de Pessoas, Marketing e Comunicação Empresarial. Com mais de 25 anos de experiência em multinacionais, atua em Comunicação Interna, Endomarketing e Eventos. Fundador da Novembro 4, é professor na ABERJE, palestrante e colunista do O ABC da Comunicação.
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